sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Pra ser sincero
Tudo bem que Engenheiros também é considerado rock, mas pra começar, o rock nacional representa um estilo musical totalmente diferente do modelo de rock n' roll original. Ainda mais se estamos falando de Engenheiros. Humberto Gessinger deixou de pegar pesado nas guitarras elétricas e em explosões de fumaça no palco para compensar nas letras, que ao contrário das outras bandas, carregam todo o peso que faltou nos instrumentos.
As bandas nacionais mais recentes transbordam futilidade. Com suas letrinhas bobas de amor, está na cara que a banda é meramente comercial. Já o clássico rock nacional dos anos 70, 80 e 90 tinham muito mais crítica, mas parecia que mesmo nas bandas que vieram depois da ditadura, havia uma necessidade de mascarar essas críticas, escondendo-as atrás de metáforas e joguinhos de palavra.
É nisso que o grande Engenheiros se difere. A crítica é direta, escancarada. E as figuras de linguagem e jogos de palavra vêm em muito mais peso do que nas outras bandas, mas só para trabalhar o lirismo, dinâmica e rima das músicas, que são todas riquíssimas nesse sentido.
"Pra ser sincero" concerteza é uma música linda, mas depois que conhecemos a maiorida das músicas da banda, esta perde um pouco o encanto. É a música mais conhecida e não há crítica social nela. Não social. Por isso os fãs, que realmente conhecem o trabalho da banda, passam a gostar mais das outras músicas que são mais ferozes e mais compatíveis com o estilo geral da banda.
Ainda assim "Pra ser sincero" é uma música que tem uma sonoridade fantástica. Marcou minha melhor época e é a "música tema" da minha amizade com Antônio Harger Rivero, o melhor amigo idealizado por mim que se materializou.
A música explica justamente o que eu e Antônio ficamos cansados de repetir: Não nos amamos, nunca ficamos, não há o menor envolvimento conjugal entre nós. É só amizade.
Aliás, é só amizade não! Primeiro porque não tem nada de "só" em amizades verdadeiras. E além do mais o que há entre eu e Antônio é mais que amizade. É uma coisa que eu não consigo descrever. Nunca diria que Antônio é "como se fosse um irmão pra mim" porque minha ligação com ele é muito mais forte do que a minha ligação com meus irmãos e com quaisquer irmãos de qualquer família que eu jamais vi. Nossa amizade é algo inexplicável. Nunca vi coisa assim.
Na infância, as crianças são amigas de quem gosta das mesmas coisas que elas. Na adolescência a grande maioria das amizades é falsa. Sempre tem um interesse. E quando não tem, é a famosa "amizade de um ano". Nessa fase as amizades são atrapalhadas por namoros, estudos e qualquer coisinha. Já na fase adulta eu quase não vejo amizade entre as pessoas. Os adultos esquecem as amizades antigas. As vezes até lembram e queriam que elas voltassem, mas não fazem nada para isso, é um comodismo absoluto. Acabam fazendo amizade apenas com as pessoas do trabalho. E não é bem amizade, é só uma companhia para sair depois do trabalho e esquecer um pouco o estresse. Se mudar de trabalho, muda de "amigos" sem problema.
Vejo minha amizade com Antônio mais forte mesmo do que as raras amizades verdadeiras que ocasionalmente vejo por aí. E ainda tem uns imbecis pra falar que essa coisa linda que é nossa relação é "meio duvidosa". Só porque andamos de mãos dadas e dormimos um na casa um do outro? Só porque compartilhamos TUDO? Só porque estamos sempre juntos e fazemos tudo juntos? Só porque somos de sexos opostos?
E não tenho vergonha de falar (na verdade falo até pra provocar) que já troquei de roupa na frente dele, que já dormi na mesma cama que ele. Não há nenhuma malícia na nossa amizade.
Humberto, ao escrever pra ser sincero, tirou as palavras da minha boca. E ainda tem menininhas alienadas que acham a música "suuuper romântica e fofa".
- Não tem nada de romântica, sua imbecil! - Penso eu.
- É, é realmente muito romântica. Eu e o Antônio somos na verdade namorados, nossa amizade é faixada. Meu sonho é me casar com ele, ter dois filhos e largar a faculdade. - Falo eu, vomitando ironia.
Esse texto ficou sem sentido, comecei falando de engenheiros e bandas em geral, passei pra a música 'pra ser sincero', fui para a minha amizade com Antônio e acabei falando de amizades no geral. Isso tudo é porque não foi um texto planejado, simplesmente foi surgindo. Eu escrevi aqui tudo que está explodindo dentro de mim. Estou indignada com a mentalidade das pessoas, feliz por ter passado uma tarde ouvindo Engenheiros e conversando com meu melhor amigo e cheia de harmonia por ser uma das poucas privilegiadas com uma amizade que eu sei que é verdadeira. Esse texto foi uma explosão de ódio, amor e felicidade.
Por último, mais uma conclusão:
Pra ser sincera, Humberto Gessinger, você é O cara!
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Quando temos momentos de lazer, lemos e assistimos filmes, mais uma vez nos tornando espectadores da vida dos outros, mesmo que seja uma vida imaginária.
E quando é que vivemos a nossa vida? Mesmo quando estamos fazendo coisas que pensamos ser nossas, estamos apenas seguindo padrões de vida.
O que poderíamos fazer para viver nossa vida? Deixar de assistir filmes, ouvir músicas e ler livros e fazer nossas próprias músicas, filmes e livros para outras pessoas deixarem de viver suas vidas para apreciar nosso trabalho?
Isso não é uma crônica, nem nada do tipo, é apenas um desabafo de uma coisa que percebi quando estava sozinha não só em casa, mas no mundo. E exatamente por não ter com quem discutir esses pensamentos existencialistas e por não conseguir explicá-los, dizer exatamente o que eu queria, transmitir essa idéia (vide post anterior), eu o posto aqui. Mas como não é uma crônica ou qualquer outro tipo de texto que eu possa classificar, não precisa ter um desfecho. Eu paro por aqui e deixo perguntas e pensamentos no ar.
Apenas mais um fato:
domingo, 15 de novembro de 2009
Metalingüagem?
Meu blog nunca terá mais que 5 leitores assíduos, tenho certeza! Há tão poucos posts que quando chego a publicar alguma coisa aqui até faz eco.
Não é por falta de criatividade, originalidade ou idéias (ainda não me conformo em escrever essa palavra sem acento). É só que eu tenho uma extrema dificuldade em expressar o que eu sinto. Tá certo que eu sou ótima em escrever (sem nenhuma modéstia), mas a minha especialidade é ficção. Eu só cheguei a escrever uma ficção nesse blog (os fantasmas que estragaram o natal) e nem ficou muito bom. É claro que há outras narrativas postadas aqui, mas por mais que algumas delas sejam meio (muito) viajadas, são altamente baseadas em coisas vividas por mim.
E por mais que as pessoas digam que os textos estão bons, eu raramente concordo. Não é porque fui eu que escrevi, até porque quando eu acho bom eu já vou logo dizendo que ficou fantástico e que "eu sou foda sim, e daí?!", modéstia não é comigo. O problema é que mesmo que as pessoas achem bons os meus textos, elas estarão achando (eu juro que tentei evitar o gerundismo) bom uma coisa que não foi idealizada por mim. O resultado sempre sai diferente do que eu pretendia. Quando eu leio meus textos ao final do processo de criação, constantemente eu sinto que eu não consegui transmitir a idéia que eu queria. Vai ver que é por isso então que as pessoas gostam dos meus textos, pois estou quase certa de que se elas entendessem o que realmente quero dizer, se afastariam gritando: "Pagã! Rebelde! Insolente! Ingrata" ou qualquer outro xingamento desse tipo. Sendo um texto que não expresse as minhas idéias, pode ser bem escrito e estruturado que mesmo assim eu não irei com a cara dele.
Nas raras ocasiões que eu consigo transmitir exatamente o que eu queria, fica tão confuso que só eu posso entendê-lo. Porque é assim que eu me sinto: confusa. Sinto que meus sentimentos e pensamentos são coisas que mais ninguém sente e pensa, sinto que sou única e diferente. E mesmo que eu não seja, quero ter essa imagem de mim.
Já os textos ficcionais, sinto que apenas ocasionalmente postarei-os aqui, visto que esses eu já faço quase todas as semanas em redações escolares e que como tenho facilidade com eles, não e para mim nenhuma grande aventura escrevê-los. Isso mesmo. Gosto que os textos a serem escritos sejam uma aventura para mim. Gosto de suar para tirar as idéias da cabeça e transcrevê-las no papel exatamente como elas são, sem que percam sua essência e que os leitores ainda as compreendam, o que é um desafio muito difícil para mim.
E é por isso que meu blog está cheio de textinhos meia boca, infantis e lugar-comum. Tem uns que escrevo só pra ocupar espaço, pra não ficar tanto tempo sem postar.
OBS: Ta aí. Gostei desse texto. Acho que transmitiu o que eu queria dizer, mas mesmo assim ele é longo e confuso. Escrevi muito pra dizer pouco, ou seja: Esse texto é uma prova, um exemplo do que esse texto fala. Então seria ele um texto metalingüístico?
sábado, 3 de outubro de 2009
Se não for amor
Mesmo se eu não tivesse essa maldita predisposição para gostar de idiotas
E mesmo que você não tivesse covinhas nas bochechas, pintinhas no pescoço e voltinhas no cabelo.
Ainda assim eu te amaria.
E não seria nem um pouquinho menos do que te amo agora.
Você pensa que deve ser fácil se apaixonar por alguém estando tão próximo. E ainda mais fácil por ser uma pessoa assim, tão bonitinha.
Não minto, foi mesmo fácil. Te digo que não precisei me esforçar nadinha pra camoçar a sentir um frio na barriga quando te via.
Mas te digo ainda que foi fácil não pelas covinhas, pintinhas e voltinhas. Muito menos pela proximidade ou pela sua carência de neurônios.
Foi fácil por que por trás de uma carinha bonitinha e através das asneiras que você fala, eu enxerguei alguém por quem realmente vale a pena se submeter a essa merda de amor.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Vazio.
Vazio, vazio. Enorme vazio.
Pode ter uma música na cabeça e um chiclete na boca, mas sua alma ainda é vazia.
Arruma, veste, sai, beija, compra. Ainda vazio. Um vazio vazado.
Lá vem um amigo. Abraço apertado, beijo estalado. Ainda vazio. Será que é mesmo amigo?
Casa vazia: ânsia. Casa cheia: vazio.
Grito, choro, pulo, canto. O vazio ainda domina.
Algo com bastante volume para ocupar o vazio: Algodão! Também serve pra limpar as lágrimas...
Eu me procuro na imensidão dos meus 158 centímetros, mas tudo que consigo encontrar é um enorme vazio.
O clima está tenso e não há humidade no ar.
domingo, 14 de junho de 2009
Os fantasmas que estragaram o natal
Os pés de Keven avançaram rápidos pelo mato rasteiro que dava uma cor esverdeada à constante névoa que impedia uma visão ampla do cenário sombrio onde se encontrava a mansão número 4 daquela rua. Marina corria para alcançar seu amigo, fazendo seus cabelos loiros balançarem. O único brilho naquele lugar sombrio vinha deles.
Keven parou ao alcançar a porta de madeira comida pelos cupins e voltou-se para a garota:
- Achei que você tinha dito que não viria.
- Eu não vou te deixar entrar sozinho. Afinal, o que você veio fazer aqui mesmo, Keven?
Antes de responder a pergunta dela, Keven desmentiu-a. Seu orgulho o enojava algumas vezes.
- Mentira! Você é que não quer ficar sozinha aqui fora. Acorda, Marina, já houve três duplos homicídios nessa casa. Você não queria viver uma aventura? Está aí a sua aventura! Excitante, não é?
A menina não respondeu, não queria que seu colega percebesse que estava com medo, apenas seguiu-o pela na trajetória pela casa. No início não havia nada incomum. Apenas muita poeira e teias de aranha, mas isso tudo era normal, afinal, eles estavam em uma casa abandonada. Somente uma coisa incomodou Marina, que esperta, logo percebeu que as luzes da casa não deveriam estar acesas já que ela não era habitada há anos.
Já tinham percorrido dois dos cinco andares da mansão tão temida pelos moradores da pequena cidade quando os estranhos eventos começaram a acontecer. Enquanto subiam as escadas rumo ao terceiro andar, sentiam a madeira velha dos degraus ranger sob seus pés a cada passo. O relógio de pêndulo situado no segundo andar bateu onze horas, produzindo um barulho ensurdecedor que assustou Marina ao ponto de fazê-la cair aos pés de Keven e agarrar as canelas do amigo.
- Os fantasmas estão aqui, Marina. - Ele falou pausadamente.
- O que??
- Consulte seu relógio e verá que estou certo. Há alguém aqui.
Amedrontada, ela obedeceu, consultando seu pequeno e delicado relógio de pulso. Os ponteiros marcavam exatamente onze horas. Como o relógio da casa poderia marcar a hora certa se supostamente pertencia a uma residência abandonada há décadas?
O próximo cômodo que o curioso Keven visitou ao chegar ao terceiro piso, foi uma espécie de biblioteca. Ele nem tentou olhar o conteúdo dos milhares de livros que haviam ali, pois as traças já haviam corroído boa parte deles. As luzes de toda a casa se apagaram quando um raio atingiu um poste do outro lado da rua ao mesmo tempo que a chuva desabou.
- Keven... vamos embora! - O pedido de Marina mais parecia uma súplica. Mas invés de atendê-lo, Keven se largou em uma das poltronas cheias de pó do cômodo.
- Agora está escuro, loirinha. Não dá pra a gente voltar nem continuar. Não consigo enxergar um palmo na frente do nariz, se formos descer escada num escuro desses, é bem provável que os fantasmas nos peguem em uma de suas armadilhas.
A "loirinha" formou em seu rosto uma expressão de impaciência que mostrava bem o que ela estava sentindo naquele momento.
- Você não quer mesmo que eu acredite nisso, não é? - Falou.
- Como assim? Você não acredita em fantasmas?
- É lógico que não, idiota!
- Achei que todo mundo acreditasse... mas se você não acredita, porque está com medo? E não me venha falar que não está com medo.
A expressão de impaciência mais uma vez tomou conta do rosto fino da menina. Ela girou os olhos para cima e suspirou profundamente antes de responder:
- Sim, eu estou com medo. Mas é um medo irracional, Keven. Nossa mente cria ilusões para nossa própria defesa.
- Ah, vai me dizer que a tempestade lá fora e a queda de energia também são ilusões da nossa mente? Senta aí, Marina. Tenho certeza que você só não acredita em fantasmas porque nunca ouviu a história dos amantes que estragaram o natal.
- Você não vai começar a contar histórias de terror agora, vai?
Keven fechou a cara por alguns segundos. O descaso que sua amiga fazia do assunto o irritava profundamente.
- Não é uma historinha de se contar em acampamento. Aconteceu de verdade! De qualquer jeito a gente vai ter que esperar aqui. Deixe-me contar a história, chatinha.
Com o silencioso consentimento de Marina, Keven começou a história usando palavras difíceis e atribuindo muitos adjetivos à todas as coisas, dando um misticismo desnecessário àquela narrativa que já era bastante aterrorizante. Ela falava sobre dois adolescentes: Mírian e Calebe, que costumavam ser muito amigos, mas quando começaram um relacionamento amoroso, essa amizade se acabara, pois se amavam demais, e esse amor era, principalmente da parte de Calebe, doentio. Os constantes acessos de ciúme deram espaço para brigas que já tinham virado rotina. Quando o jovem Calebe se deparou com a pessoa que mais amava triste e magoada, tentou voltar atrás e rompeu seu namoro de quatro anos, pensando em reestabelecer a amizade de outrora. O que ele não tinha previsto, era o ressentimento que havia ficado entre os dois. Sua amizade com Mírian jamais seria a mesma.
- O amor dele pela amiga era incondicional e ele não aceitaria perdê-la tão facilmente. - Contava Keven - Então, Calebe fez sua difícil decisão e chamou Mírian para almoçar em sua casa na véspera de natal. O almoço foi ótimo e agradável, visto que a família dele adorava a dócil e mimada menina. Apenas após o almoço foi que Calebe resolveu colocar seu plano em prática. Chamou-a para passear nos jardins e foi quando a tragédia aconteceu. Com um punhal herdado de seu avô, o rapaz perfurou a fina camada de pele que envolvia a barriga de sua amiga, matando-a de hemorragia em pouco tempo. Antes que sua família notasse o crime, ele virou a lâmina da arma para seu próprio peito e se matou, condenando Mírian a passar o resto da eternidade com ele e estragando o natal de pelo menos duas famílias. Os dois nunca mais ficaram sozinhos, nunca mais poderiam se queixar de solidão. Agora os dois têm um ao outro. Sabe qual é o mais interessante, Marina? Essa triste história aconteceu há quarenta e quatro anos atrás, nessa mesma casa sombria em que nos encontramos agora. Após esse trágico evento, os fantasmas de Mírian e Calebe assombram a mansão e tentam convencer todo casal que coloca os pés aqui a fazer o mesmo que eles fizeram.
Marina se ajeitou na poltrona. seus olhos já haviam se acostumado com o escuro e agora ela podia ver o semblante de Keven, fitando-a fixamente. Mesmo com os pêlos loiros do braço arrepiados e um frio na barriga que denunciava seu medo, a menina falou com desdém:
- Você não é um bom contador de histórias, sabe? E essa daí em particular é bem clichêzinha, viu. Se você queria me convencer de alguma coisa, não conseguiu.
Antes mesmo que Keven pudesse rebater com uma das respostas mal educadas que vieram em sua mente, as luzes se acenderam novamente, assustando os dois. Eles olharam a sua volta e analisaram o local, que parecia estar bem diferente do que era antes de faltar luz.
Alguns livros estavam caídos no chão e alguns móveis estavam em outra posição. Talvez a mente dos garotos estivesse mesmo brincando com eles, talvez as coisas já estivessem assim e eles não tinham prestado atenção. A única coisa que provou que alguém realmente estivera ali, foi o fato de que a cadeira de balanço ao lado de Marina balançava. E balançava forte, como se alguém tivesse acabado de se levantar dela.
Assim como sua amiga, Keven tinha medo, mas ao contrário dela, ele se levantou com um pulo e foi atrás da pessoa ou seja lá o que fosse que tivesse feito aquilo. No exato instante em que ele deixou o confortável encosto da poltrona, uma luz tão ou mais brilhante que os cabelos de Marina tomou conta do ambiente e se materializou em forma de uma linda menina descalça com um vestidinho de renda branco.
- Em que posso ajudá-los? - Sua voz era tão fina que Marina teve certeza de que poderia matá-la de agonia se a ouvisse por um bom tempo.
Keven quase não conseguia falar de tanto espanto. Sua boca se abriu e fechou umas três vezes antes que ele conseguisse pronunciar uma palávra quase inaudível:
- ... Mírian...
- Ah, eu entendo. - A menina balançou a cabeça afirmativamente - Você veio matá-lo, não é? - Ela se dirigia à Marina.
Tomado pelo desespero, Keven conseguiu falar em alto e bom som alguma coisa que fizesse sentido:
- Marina, não ouça nada do que ela disser, ela vai tentar te convencer! - E voltando-se para a pequena aparição feminina - Seu monstro, não ouse fazer nada comigo! Você não vai conseguir me convencer!
- Eu?? - A fantasma riu. Sua risada conseguia ser mais fina e agoniante que sua voz. - Quem vai fazer alguma coisa aqui é você. - Ela virou os olhos para Marina - Ou você. Sabem, as pessoas costumam culpar a mim e a meu amado Calebe. Mas nós não temos absolutamente nada a ver com isso. Os casais já vêm aqui com essa ideia na cabeça, não somos nós que os manipulamos. Se não fosse isso, por qual outro motivo eles viriam aqui? Para ter um passeio romântico é que não é.
- Nós não somos um casal. - Defendeu-se Keven.
- Oh, não? Não seja tolo! Você sabe que os sentimentos dela por você são os mesmos que os seus. A única coisa que falta é iniciativa. Porque você não conversa com ela? Tem medo? Medo da possível rejeição? Medo de perdê-la? Talvez seja por isso que você a trouxe aqui.
Agora sim Marina deixava transparecer seu medo. Agora seu medo era totalmente racional.
- Keven... É por isso que você não quis ir embora! Seu... maldito! Eu te odeio! - Suas últimas palavras foram mais rosnadas do que faladas. Marina deixara sua primeira lágrima pingar no carpete cor de vinho daquela sala arrepiante.
- Loirinha! Você sabe que eu não... você está desconfiando de mim? Logo de mim? Eu que sempre te apoiei! Eu não vim aqui pensando nisso, se você quer saber, mas agora até que seria bom arrancar esse seu coração impuro e beber seu sangue sujo! Você me dá nojo, Marina, nojo! - Falou Keven surpreendendo a si mesmo. Em condições normais, ele jamais falaria coisas como essas.
Os dois já nem se importavam com a presença de Míriam. A antiga amiga de Keven parou para respirar entre soluços antes de recomeçar os insultos. Seu coração batia demasiado rápido, sua adrenalina estava à mil. Sentiu-se fraca de repente e se apoiou em uma pequena mesa redonda de vidro, mas ao fazer isso, sentiu a ponta metálica de um objeto que, por mais que forçasse sua mente, não conseguia lembrar de ter visto naquele lugar. Era um revólver antigo, daqueles que só se via em filme. A menina segurou-o com firmeza, pronta para atirá-lo longe caso Keven tentasse pegá-lo.
- O que foi? Ficou sem palavras? Viu que, como sempre, eu tenho razão? - Keven cuspiu suas palavras agressivas de modo tão feroz que Marina não pôde pensar no que estava fazendo. Uma força poderosa apoderou-a, fazendo-a apontar o cano frio da arma diretamente para o peito de seu "adversário". Agindo novamente, a força a fez apertar o gatilho.
Talvez nem fosse a força. Talvez fosse ela mesma que tivesse que colocar a culpa em algo sobrenatural para justificar suas ações. É, era isso. Ela precisava ter feito aquilo. Olhou satisfeita para o corpo que sangrava manchando ainda mais o carpete.
Mírian riu. Aquela risada agoniante. Marina teria atirado na fantasma se aquela risada não a tivesse trazido para a realidade. Ao ver Keven caído, morto no chão, ela não pode gritar nem chorar, fez apenas o que era necessário: Direcionou a arma para sua cabeça e deu um fim àquela história com apenas um tiro.
Um rapaz alto e moreno apareceu ao lado de Mírian do mesmo modo que ela havia aparecido para os finados adolescentes há poucos minutos atrás. Loucamente, os dois se abraçaram e se beijaram. Jamais ficariam sozinhos.
sábado, 14 de fevereiro de 2009
Reflexão do dia
E fui deitar me perguntando porque todos eram melhores que eu.
Se você quer saber...
é bem diferente!
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
O amor só mudou de cor
Tudo começou com aquele bege clarinho, que simbolizava apenas o respeito que tínhamos um pelo outro. Com o tempo, esse respeito cresceu, nossa amizade cresceu e nós também crescemos. Já não era mais bege... começava a ganhar um tom claro de rosa (o mesmo tom de rosa que nossas bochechas adquiriam ao nos falarmos). Parou por aí... Pelo menos por um tempo. Dois longos e eternos anos de rosinha claro.Dois looooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooongos anos. E então o rosa regrediu e voltou a ser bege. Mas então, de repente, voltamos a nos falar direito e nossa amizade já estava no auge de novo. De repente. De repente mesmo! Foi tão rápido que nem passou por aquele rosinha claro. Do bege, já foi direto para aquele rosa-choque escandaloso!
Como foi bom esse pouco tempo foram bons esses 10 meses! 10 meses de rosa - choque bem aproveitados e vividos intensamente!
E a gente brincava, e gritava, e cantava, e pulava, e dançava, e fingia que brigava, e simulava discussões... e haviam aquelas horas em que você me vencia vinte vezes seguidas no videogame na sua casa, em que fingíamos que estudávamos inglês e era tão, tão, tão bom!
Foi quando você me roubou o primeiro beijo, que o rosa -choque virou vermelho, rouge, rubro, escarlate!
O amor que sentíamos um pelo outro era intenso, mas já não aproveitávamos nossos momentos juntos tão intensamente. Ficávamos muito presos àquela coisa de beijar, dizer que ama, pegar na mão, beijar, dizer que ama, pegar na mão e esquecemos que antes de sermos namorados, éramos amigos!
Você deve saber, isso foi ruim. Tão ruim que depois que passou a novidade, não era vermelho, não era rosa - choque, não era... como descrever aquela cor? Era uma espécie de rosa claro desbotado, ou talvez nem isso. Estava cristalinamente claro que aquilo não dava mais certo. Poderíamos ter retornado à nossa amizade, que era linda! Mas foi só eu tocar no assunto de terminar que você jogou tudo no lixo pro alto! Inclusive a nossa amizade.
Pra mim já era branco. Um vazio.
Ora, do que você está reclamando?
"O amor que eu dei não foi o mesmo que eu vi acabar
O amor só mudou de cor, agora já ta desbotado"