sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Pra ser sincero

A música que marcou o melhor período da minha vida começa com um solo de piano. Quem diria. Hoje em dia sou mais roqueira, ouço o Hardzão setentista e oitentista. Quem diria. Quem me conheceu de uns dois anos pra cá chega a ficar admirado quando sabe que Engenheiros do Hawaii está entre as minhas 3 bandas preferidas.
Tudo bem que Engenheiros também é considerado rock, mas pra começar, o rock nacional representa um estilo musical totalmente diferente do modelo de rock n' roll original. Ainda mais se estamos falando de Engenheiros. Humberto Gessinger deixou de pegar pesado nas guitarras elétricas e em explosões de fumaça no palco para compensar nas letras, que ao contrário das outras bandas, carregam todo o peso que faltou nos instrumentos.
As bandas nacionais mais recentes transbordam futilidade. Com suas letrinhas bobas de amor, está na cara que a banda é meramente comercial. Já o clássico rock nacional dos anos 70, 80 e 90 tinham muito mais crítica, mas parecia que mesmo nas bandas que vieram depois da ditadura, havia uma necessidade de mascarar essas críticas, escondendo-as atrás de metáforas e joguinhos de palavra.
É nisso que o grande Engenheiros se difere. A crítica é direta, escancarada. E as figuras de linguagem e jogos de palavra vêm em muito mais peso do que nas outras bandas, mas só para trabalhar o lirismo, dinâmica e rima das músicas, que são todas riquíssimas nesse sentido.
"Pra ser sincero" concerteza é uma música linda, mas depois que conhecemos a maiorida das músicas da banda, esta perde um pouco o encanto. É a música mais conhecida e não há crítica social nela. Não social. Por isso os fãs, que realmente conhecem o trabalho da banda, passam a gostar mais das outras músicas que são mais ferozes e mais compatíveis com o estilo geral da banda.
Ainda assim "Pra ser sincero" é uma música que tem uma sonoridade fantástica. Marcou minha melhor época e é a "música tema" da minha amizade com Antônio Harger Rivero, o melhor amigo idealizado por mim que se materializou.
A música explica justamente o que eu e Antônio ficamos cansados de repetir: Não nos amamos, nunca ficamos, não há o menor envolvimento conjugal entre nós. É só amizade.
Aliás, é só amizade não! Primeiro porque não tem nada de "só" em amizades verdadeiras. E além do mais o que há entre eu e Antônio é mais que amizade. É uma coisa que eu não consigo descrever. Nunca diria que Antônio é "como se fosse um irmão pra mim" porque minha ligação com ele é muito mais forte do que a minha ligação com meus irmãos e com quaisquer irmãos de qualquer família que eu jamais vi. Nossa amizade é algo inexplicável. Nunca vi coisa assim.
Na infância, as crianças são amigas de quem gosta das mesmas coisas que elas. Na adolescência a grande maioria das amizades é falsa. Sempre tem um interesse. E quando não tem, é a famosa "amizade de um ano". Nessa fase as amizades são atrapalhadas por namoros, estudos e qualquer coisinha. Já na fase adulta eu quase não vejo amizade entre as pessoas. Os adultos esquecem as amizades antigas. As vezes até lembram e queriam que elas voltassem, mas não fazem nada para isso, é um comodismo absoluto. Acabam fazendo amizade apenas com as pessoas do trabalho. E não é bem amizade, é só uma companhia para sair depois do trabalho e esquecer um pouco o estresse. Se mudar de trabalho, muda de "amigos" sem problema.
Vejo minha amizade com Antônio mais forte mesmo do que as raras amizades verdadeiras que ocasionalmente vejo por aí. E ainda tem uns imbecis pra falar que essa coisa linda que é nossa relação é "meio duvidosa". Só porque andamos de mãos dadas e dormimos um na casa um do outro? Só porque compartilhamos TUDO? Só porque estamos sempre juntos e fazemos tudo juntos? Só porque somos de sexos opostos?
E não tenho vergonha de falar (na verdade falo até pra provocar) que já troquei de roupa na frente dele, que já dormi na mesma cama que ele. Não há nenhuma malícia na nossa amizade.
Humberto, ao escrever pra ser sincero, tirou as palavras da minha boca. E ainda tem menininhas alienadas que acham a música "suuuper romântica e fofa".
- Não tem nada de romântica, sua imbecil! - Penso eu.
- É, é realmente muito romântica. Eu e o Antônio somos na verdade namorados, nossa amizade é faixada. Meu sonho é me casar com ele, ter dois filhos e largar a faculdade. - Falo eu, vomitando ironia.
Esse texto ficou sem sentido, comecei falando de engenheiros e bandas em geral, passei pra a música 'pra ser sincero', fui para a minha amizade com Antônio e acabei falando de amizades no geral. Isso tudo é porque não foi um texto planejado, simplesmente foi surgindo. Eu escrevi aqui tudo que está explodindo dentro de mim. Estou indignada com a mentalidade das pessoas, feliz por ter passado uma tarde ouvindo Engenheiros e conversando com meu melhor amigo e cheia de harmonia por ser uma das poucas privilegiadas com uma amizade que eu sei que é verdadeira. Esse texto foi uma explosão de ódio, amor e felicidade.

Por último, mais uma conclusão:
Pra ser sincera, Humberto Gessinger, você é O cara!

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