sábado, 13 de novembro de 2010

.

As pessoas lá fora gritam pelo futebol. Um grito uníssono. Um urro. A mediocridade transborda-lhes as almas assim como a cerveja transborda seus copos. Não é o futebol que faz isso com elas, o futebol apenas as reúne. O que? Como? Parece que estão dizendo alguma coisa. Uma palavra. O nome de um time, talvez. Talvez o placar. Poderia ser o meu nome que ainda assim eu não entenderia. Pra mim continua sendo apenas um urro. É o grito suado da multidão.

domingo, 4 de julho de 2010

Daniel



Baseado no Livro “A Rainha dos condenados” das Crônicas Vampirescas de Anne Rice (1988, ANTES da modinha de crepúsculo)
A noite caiu mais uma vez sobre Los Angeles. Para a maioria das pessoas não fazia a mínima diferença. A cidade continuava perfeitamente clara e iluminada de qualquer jeito. Mas para Armand essa diferença era crucial. Vital.
Empurrou sem esforço a tampa do caixão aveludado e a primeira coisa que fez foi caminhar rumo ao quarto de seu amado Daniel. Seu Daniel Mortal.
Encontrou o ex-jornalista em pé em frente à janela, contemplando a lua recém nascida. Provavelmente estava se perguntando quando é que ele, Armand, despertaria.
- À minha espera?
Daniel virou-se para contemplar seu mestre, revelando assim uma cara macilenta com imensas olheiras que haviam tomado conta de praticamente toda a face. Uns fiapos de barba cresciam irregulares em seu rosto e davam a ele um aspecto extremamente velho.
Ao ver seu amado em uma condição tão mortal, tão efêmera, tão perecível, Armand teve vontade de lhe conceder o Dom das Trevas. Teve vontade de dar a ele aquele poder do demônio e devolver-lhe a juventude e a beleza que cansaço nenhum poderia tirar. Teve uma vontade momentânea de fazer tudo aquilo que sabia que não conseguiria fazer. Mas foi tudo por um breve momento e logo a vontade passou.
- Respeite seu organismo, Daniel. Ele não consegue acompanhar meu rítimo. Olhe só pra você… está acabado!
- Então me transforme em um de vocês! - O jovem jornalista clamou pela milésima vez naquela semana.
Armand apenas o ignorou enquanto pegava sua capa e dizia:
- Venha, vamos caçar.
“O seu vamos significa vou” pensou Daniel enquanto se dirigia à rua, a boca salivando de inveja.
- Eu posso ouvir seus pensamentos, jovem mortal.
Foi a vez de Daniel de ignorar o companheiro. Apenas caminhou atrás deste, tentando adivinhar quem seria a vítima da noite. Estava há tanto tempo com Armand, o conhecia tão bem… ele sabia que o vampiro preferia presas marginalizadas às inocentes. Poderia jurar que dessa vez seria uma prostituta. E lá estava Armand, apenas alguns minutos depois, se aproximando de uma.
Ah, Daniel conhecia tão bem aquele processo. Vira Armand executá-lo tantas vezes. Sabia passo a passo o que ia fazer. Todos os seus movimentos. Primeiro ia mostrar seu dinheiro àquela mulher, depois ia encostá-la na parede e começar a beijá-la meio compulsivamente enquanto ela lhe roubava a carteira furtivamente e ele fingia que não percebia. Depois, muito lentamente, Armand ia descendo a cabeça fingindo prazer até encontrar o pescoço de sua vítima, onde começava com beijos carinhosos e lentos até dar a mordida fatal. Nessa hora Armand provavelmente iria enforcá-la com o próprio colar para que ela não pudesse gritar e então tomaria seu sangue até o fim, observando sua expressão de horror crescer a cada segundo. Depois da morte inevitável da mulher, ele jogaria seu corpo num canto, puxaria uma adaga e apunhalaria sua barriga diversas vezes. Agarraria um rato ou qualquer outro bicho que estivesse por ali e o perfuraria com suas enormes unhas vitrificadas, jogando todo o sangue do animal por cima do cadáver fresco da mulher, para não levantar suspeitas. Mas não achava realmente que alguém ia se importar, era “só” uma puta. A sociedade não ligava para elas, não iriam investigar sua morte.
O palpite de Daniel foi bom. Aconteceu exatamente daquele jeito.
- Este sangue… estava incrivelmente doce. - Comentou o vampiro se aproximando.
- Você nunca vai me deixar experimentar, não é? Nunca vou saber qual é a sensação, nunca vou sentir o gosto.
- Não. - A sinceridade de Armand explodiu em sua boca e provocou um certo desespero em Daniel.
- Eu achei que você me amava! - Falou quase gritando.
- Mas eu te amo, Da…
- Pois eu não vou durar pra sempre, Armand! Um dia eu vou morrer e apodrecer. E aí… você já não vai poder fazer nada.
- A idéia da sua morte me apavora. Mas o que eu gosto em você é justamente a sua mortalidade. Eu simplesmente não posso te dar o Dom das Trevas. Eu não… eu não suportaria olhar pra você!
- O que há de bom em ser mortal? O que em mim chama tanto a sua atenção?
- Você perderia toda sua ternura e inocência se ganhasse a imortalidade. É uma troca. E você é pura ternura e inocência. A idéia de te ver sem isso é inconcebível pra mim.
- Você está sendo muito… egoísta. Você olha pra mim e me vê morrer aos poucos, noite após noite. - Daniel proferiu as palavras com fúria, mas também com medo da reação de Armand.
Contudo, não houve reação alguma. O vampiro secular pôs-se a andar pela rua, certo de que seu amado mortal o acompanharia. Andaram por muito tempo (ambos calados) até que Armand avistou uma propriedade abandonada. Em questão de segundos estava do outro lado do muro.
- Venha até aqui. - Chamou por Daniel e em seguida riu ao ver as tentativas frustradas do homem de tentar pular o muro alto. Era essa a mortalidade que ele tanto amava. E que em breve se perderia para sempre.
Quando enfim Daniel pôs os pés no jardim morto da residência, Armand correu para dentro da casa enquanto falava mentalmente com Daniel: “vou lhe dar o presente. O que você acha que deseja”.
Daniel seguiu-o sem saber o que fazer ao certo. Sentia uma sensação de triunfo deliciosa.
- Deite-se. Vai ser agora. Lembre-se: é um caminho sem volta.
O jornalista obedeceu. Deitou-se no chão rangente de madeira esperando pelas presas de Armand. Esperando pelo sangue de Armand. Esperando pela imortalidade.
Armand posicionou-se sobre Daniel pronto para o que deveria fazer. Sem querer deixou escapar uma lágrima, que caiu na testa de seu amado mortal.
- Você não tem o direito de chorar, Armand. Não é justo. É o meu renascimento! - Apesar de tudo, sentia-se alegre.
- Psiu!
Daniel conhecia tão bem os vampiros que já se sentia um deles há muito tempo. E era por isso que Armand devia transformá-lo. Ele sabia o que viria a seguir. Armand deveria mordê-lo como se morde uma vítima. Deveria tomar seu sangue até deixá-lo à beira da morte. Então cortaria o próprio pulso e daria algumas gotas para ele tomar. Junto com o sangue de Armand, a imortalidade lhe invadiria o corpo. E o processo começou.
Armand se curvou até o pescoço de Daniel e cravou seus longos caninos sobre a jugular deste, mas não sem antes analisá-la. O lindo jeito como a pulsação daquela veia acompanhava as batidas do coração. Daniel não pôde deixar de gritar. A dor… aquela dor que antecedia a melhor coisa que iria lhe acontecer.
Com gosto, Armand drenou o sangue de Daniel até o limite da vida. Então parou, afastou-lhe os cabelos da testa suada e contemplou-o arfar, buscando o ar que lhe faltava. Apesar de apavorado, Daniel continuava ansioso pelo gosto do sangue. Mas ao menos conseguia sorrir ou demonstrar qualquer outra expressão. Estava muito fraco.
O vampiro saiu de cima de sua presa e sentou-se ao lado dela, dessa vez com compaixão. Sentia muito por aquilo ter que acontecer.
- Armand… rápido… - Balbuciou Daniel. Sua voz sumira. Mal podia esperar pelo sangue de Armand. Mas o único sangue que sentiu foi o seu próprio, em sua última golfada de vida.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Eu só queria alguém para amar...

Da última vez que alguém partiu meu coração, foi um verdadeiro estrago. E eu demorei muito para me recuperar. Quer dizer… acho que até agora não me recuperei por completo. Eu não gosto mais do cara, mas… ficou um vazio.
É que eu me sinto incapaz de amar alguém de novo. Não é que eu não queira amar ninguém por saber que vou me magoar no final. Não. Muito pelo contrário. Eu até tento me apaixonar por alguém, mas simplesmente não consigo!
E eu sinto falta de estar apaixonada. Uma sensação tão gostosa! Eu sinto falta do frio na barriga e até de chorar de nervoso por não saber quando ia ver o meu amor novamente.
Desde então eu conheci alguns carinhas legais que até estavam interessados em mim, mas por mais que eu me esforçasse… nada! Por Dr, meu antigo amor, eu sentia um sentimento tão intenso que mesmo agora que não o amo mais, morro de saudades. Não dele, mas do que eu sentia.
Eu acho que agora, toda vez que eu conheço alguém por quem talvez eu possa me apaixonar, isso acaba não acontecendo porque eu inconscientemente comparo o que eu sentia por Dr com o que eu sinto pela pessoa. No instante que eu faço isso, está exterminada qualquer possibilidade que exista de eu gostar daquela pessoa. Porque não dá pra comparar! É desleal! O amor que eu sentia por Dr eu sei que nunca mais vou sentir de novo.
A explicação disso eu não sei… Talvez Dr realmente fosse o cara perfeito pra mim, mas acho que não. Acho só que ele era uma pessoa legal e eu estava em um momento muito bom da minha vida e tudo isso junto fez com que nascesse aquela coisa mutante que eu chamei de amor. Mas era mais que amor.
Agora que eu já experimentei dessa sensação extraordinária e ela me foi arrancada à força, eu não vou conseguir me contentar com algo normal.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

As vezes eu sinto vergonha de ser rica

E com rica eu quero dizer: ter dinheiro suficiente para comer, dormir e viver bem. Ter um plano de saúde, estudar em uma escola particular e ainda poder gastar um pouco com cultura e diversão.
Hoje mesmo eu estava no ônibus, dentro do meu próprio mundinho quando vejo que um homem comum entrou no transporte. Era tão comum que nem chamou a atenção de ninguém para si próprio. Acontece que ele precisava disso. Controlou seu orgulho, sua vergonha e elevou a voz para todos no ônibus poderem ouví-lo. Pedia por dinheiro pra comprar remédio humildemente. Era perceptível o fato de que ele não era bom naquilo.
Ele não era como um daqueles mendigos que costumamos julgar “nojentos” que exibem suas feridas pro povo dar dinheiro querendo que eles saiam logo dali. Ele não fazia isso. Mas exibia uma receita médica plastificada e uma foto sua com os dois filhos (as pessoas de hoje em dia não acreditariam nele se não fosse por isso). Contou a história de sua vida, dizendo que sofrera um acidente de trabalho que o impedia agora de carregar peso. Falou que era honesto e trabalhador e que mesmo sem poder trabalhar, fazia questão de manter os filhos na escola e dera um jeito da mulher trabalhar para pagar pagar luz, água e aluguel. Ele só queria dinheiro para os remédios. Só.
Eu não tinha um único centavo comigo. Não tinha nada. Nada! Porque se eu tivesse eu realmente teria dado. Mesmo sabendo que não teria dinheiro para dar a ele, eu prestei atenção à sua história e olhei-o nos olhos todo o tempo, enquanto os outros passageiros tentavam ignorá-lo.
Então olhei pra mim mesma. Uma garota de mochila de marca nas costas, um all star limpinho nos pés e toda a pinta de filhinha de papai que apesar de estar ali, tem condições de pegar um táxi ou ser buscada de carro pela mamãe. Tenho certeza de que o homem não acreditou que eu não tinha dinheiro e deve ter me amaldiçoado por dentro. E não o culpo.
Senti a vergonha dominar meu corpo imediatamente. Vergonha de ser de ter dinheiro, vergonha de poder chegar em casa e me dar o luxo de dormir pelo resto da tarde enquanto muitas pessoas tinham a necessidade de estar trabalhando para sub-viver. Vergonha de estar juntando dinheiro para comprar um objeto de R$ 130,00 de que eu não preciso realmente.
Mas então eu entendi que eu não preciso sentir vergonha de mim por querer um pouco de conforto e cultura. Mas ao invés disso eu preciso ter vergonha de fazer parte de um modelo de sociedade em que as pessoas que vivem bem precisam conviver com a culpa disso lhes pesando sobre a cabeça porque existem pessoas que mal sobrevivem.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Pra ser sincero

A música que marcou o melhor período da minha vida começa com um solo de piano. Quem diria. Hoje em dia sou mais roqueira, ouço o Hardzão setentista e oitentista. Quem diria. Quem me conheceu de uns dois anos pra cá chega a ficar admirado quando sabe que Engenheiros do Hawaii está entre as minhas 3 bandas preferidas.
Tudo bem que Engenheiros também é considerado rock, mas pra começar, o rock nacional representa um estilo musical totalmente diferente do modelo de rock n' roll original. Ainda mais se estamos falando de Engenheiros. Humberto Gessinger deixou de pegar pesado nas guitarras elétricas e em explosões de fumaça no palco para compensar nas letras, que ao contrário das outras bandas, carregam todo o peso que faltou nos instrumentos.
As bandas nacionais mais recentes transbordam futilidade. Com suas letrinhas bobas de amor, está na cara que a banda é meramente comercial. Já o clássico rock nacional dos anos 70, 80 e 90 tinham muito mais crítica, mas parecia que mesmo nas bandas que vieram depois da ditadura, havia uma necessidade de mascarar essas críticas, escondendo-as atrás de metáforas e joguinhos de palavra.
É nisso que o grande Engenheiros se difere. A crítica é direta, escancarada. E as figuras de linguagem e jogos de palavra vêm em muito mais peso do que nas outras bandas, mas só para trabalhar o lirismo, dinâmica e rima das músicas, que são todas riquíssimas nesse sentido.
"Pra ser sincero" concerteza é uma música linda, mas depois que conhecemos a maiorida das músicas da banda, esta perde um pouco o encanto. É a música mais conhecida e não há crítica social nela. Não social. Por isso os fãs, que realmente conhecem o trabalho da banda, passam a gostar mais das outras músicas que são mais ferozes e mais compatíveis com o estilo geral da banda.
Ainda assim "Pra ser sincero" é uma música que tem uma sonoridade fantástica. Marcou minha melhor época e é a "música tema" da minha amizade com Antônio Harger Rivero, o melhor amigo idealizado por mim que se materializou.
A música explica justamente o que eu e Antônio ficamos cansados de repetir: Não nos amamos, nunca ficamos, não há o menor envolvimento conjugal entre nós. É só amizade.
Aliás, é só amizade não! Primeiro porque não tem nada de "só" em amizades verdadeiras. E além do mais o que há entre eu e Antônio é mais que amizade. É uma coisa que eu não consigo descrever. Nunca diria que Antônio é "como se fosse um irmão pra mim" porque minha ligação com ele é muito mais forte do que a minha ligação com meus irmãos e com quaisquer irmãos de qualquer família que eu jamais vi. Nossa amizade é algo inexplicável. Nunca vi coisa assim.
Na infância, as crianças são amigas de quem gosta das mesmas coisas que elas. Na adolescência a grande maioria das amizades é falsa. Sempre tem um interesse. E quando não tem, é a famosa "amizade de um ano". Nessa fase as amizades são atrapalhadas por namoros, estudos e qualquer coisinha. Já na fase adulta eu quase não vejo amizade entre as pessoas. Os adultos esquecem as amizades antigas. As vezes até lembram e queriam que elas voltassem, mas não fazem nada para isso, é um comodismo absoluto. Acabam fazendo amizade apenas com as pessoas do trabalho. E não é bem amizade, é só uma companhia para sair depois do trabalho e esquecer um pouco o estresse. Se mudar de trabalho, muda de "amigos" sem problema.
Vejo minha amizade com Antônio mais forte mesmo do que as raras amizades verdadeiras que ocasionalmente vejo por aí. E ainda tem uns imbecis pra falar que essa coisa linda que é nossa relação é "meio duvidosa". Só porque andamos de mãos dadas e dormimos um na casa um do outro? Só porque compartilhamos TUDO? Só porque estamos sempre juntos e fazemos tudo juntos? Só porque somos de sexos opostos?
E não tenho vergonha de falar (na verdade falo até pra provocar) que já troquei de roupa na frente dele, que já dormi na mesma cama que ele. Não há nenhuma malícia na nossa amizade.
Humberto, ao escrever pra ser sincero, tirou as palavras da minha boca. E ainda tem menininhas alienadas que acham a música "suuuper romântica e fofa".
- Não tem nada de romântica, sua imbecil! - Penso eu.
- É, é realmente muito romântica. Eu e o Antônio somos na verdade namorados, nossa amizade é faixada. Meu sonho é me casar com ele, ter dois filhos e largar a faculdade. - Falo eu, vomitando ironia.
Esse texto ficou sem sentido, comecei falando de engenheiros e bandas em geral, passei pra a música 'pra ser sincero', fui para a minha amizade com Antônio e acabei falando de amizades no geral. Isso tudo é porque não foi um texto planejado, simplesmente foi surgindo. Eu escrevi aqui tudo que está explodindo dentro de mim. Estou indignada com a mentalidade das pessoas, feliz por ter passado uma tarde ouvindo Engenheiros e conversando com meu melhor amigo e cheia de harmonia por ser uma das poucas privilegiadas com uma amizade que eu sei que é verdadeira. Esse texto foi uma explosão de ódio, amor e felicidade.

Por último, mais uma conclusão:
Pra ser sincera, Humberto Gessinger, você é O cara!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Enquanto jovens, gastamos a maior parte do dia em escolas, cursos e universidades, aprendendo sobre a vida dos outros e aprendendo o que outros descobriram. Na fase adulta passamos mais da metade aproveitável do dia trabalhando, na grande maioria das vezes, resolvendo problemas dos outros, fazendo coisas pros outros.
Quando temos momentos de lazer, lemos e assistimos filmes, mais uma vez nos tornando espectadores da vida dos outros, mesmo que seja uma vida imaginária.
E quando é que vivemos a nossa vida? Mesmo quando estamos fazendo coisas que pensamos ser nossas, estamos apenas seguindo padrões de vida.
O que poderíamos fazer para viver nossa vida? Deixar de assistir filmes, ouvir músicas e ler livros e fazer nossas próprias músicas, filmes e livros para outras pessoas deixarem de viver suas vidas para apreciar nosso trabalho?
Isso não é uma crônica, nem nada do tipo, é apenas um desabafo de uma coisa que percebi quando estava sozinha não só em casa, mas no mundo. E exatamente por não ter com quem discutir esses pensamentos existencialistas e por não conseguir explicá-los, dizer exatamente o que eu queria, transmitir essa idéia (vide post anterior), eu o posto aqui. Mas como não é uma crônica ou qualquer outro tipo de texto que eu possa classificar, não precisa ter um desfecho. Eu paro por aqui e deixo perguntas e pensamentos no ar.
Apenas mais um fato:
O mais irônico de tudo foi que percebi isso enquanto assistia a um filme.

domingo, 15 de novembro de 2009

Metalingüagem?

Tem blogs que leio que sai uma postagem por dia. Tem outros que até ficam um certo tempo "às moscas", mas então o blogueiro faz quatro posts em um só dia para compensar. E quanto ao meu blog, essa coisa vazia cheia de poeira que fede a mofo?
Meu blog nunca terá mais que 5 leitores assíduos, tenho certeza! Há tão poucos posts que quando chego a publicar alguma coisa aqui até faz eco.
Não é por falta de criatividade, originalidade ou idéias (ainda não me conformo em escrever essa palavra sem acento). É só que eu tenho uma extrema dificuldade em expressar o que eu sinto. Tá certo que eu sou ótima em escrever (sem nenhuma modéstia), mas a minha especialidade é ficção. Eu só cheguei a escrever uma ficção nesse blog (os fantasmas que estragaram o natal) e nem ficou muito bom. É claro que há outras narrativas postadas aqui, mas por mais que algumas delas sejam meio (muito) viajadas, são altamente baseadas em coisas vividas por mim.
E por mais que as pessoas digam que os textos estão bons, eu raramente concordo. Não é porque fui eu que escrevi, até porque quando eu acho bom eu já vou logo dizendo que ficou fantástico e que "eu sou foda sim, e daí?!", modéstia não é comigo. O problema é que mesmo que as pessoas achem bons os meus textos, elas estarão achando (eu juro que tentei evitar o gerundismo) bom uma coisa que não foi idealizada por mim. O resultado sempre sai diferente do que eu pretendia. Quando eu leio meus textos ao final do processo de criação, constantemente eu sinto que eu não consegui transmitir a idéia que eu queria. Vai ver que é por isso então que as pessoas gostam dos meus textos, pois estou quase certa de que se elas entendessem o que realmente quero dizer, se afastariam gritando: "Pagã! Rebelde! Insolente! Ingrata" ou qualquer outro xingamento desse tipo. Sendo um texto que não expresse as minhas idéias, pode ser bem escrito e estruturado que mesmo assim eu não irei com a cara dele.
Nas raras ocasiões que eu consigo transmitir exatamente o que eu queria, fica tão confuso que só eu posso entendê-lo. Porque é assim que eu me sinto: confusa. Sinto que meus sentimentos e pensamentos são coisas que mais ninguém sente e pensa, sinto que sou única e diferente. E mesmo que eu não seja, quero ter essa imagem de mim.
Já os textos ficcionais, sinto que apenas ocasionalmente postarei-os aqui, visto que esses eu já faço quase todas as semanas em redações escolares e que como tenho facilidade com eles, não e para mim nenhuma grande aventura escrevê-los. Isso mesmo. Gosto que os textos a serem escritos sejam uma aventura para mim. Gosto de suar para tirar as idéias da cabeça e transcrevê-las no papel exatamente como elas são, sem que percam sua essência e que os leitores ainda as compreendam, o que é um desafio muito difícil para mim.
E é por isso que meu blog está cheio de textinhos meia boca, infantis e lugar-comum. Tem uns que escrevo só pra ocupar espaço, pra não ficar tanto tempo sem postar.

OBS: Ta aí. Gostei desse texto. Acho que transmitiu o que eu queria dizer, mas mesmo assim ele é longo e confuso. Escrevi muito pra dizer pouco, ou seja: Esse texto é uma prova, um exemplo do que esse texto fala. Então seria ele um texto metalingüístico?