E com rica eu quero dizer: ter dinheiro suficiente para comer, dormir e viver bem. Ter um plano de saúde, estudar em uma escola particular e ainda poder gastar um pouco com cultura e diversão.
Hoje mesmo eu estava no ônibus, dentro do meu próprio mundinho quando vejo que um homem comum entrou no transporte. Era tão comum que nem chamou a atenção de ninguém para si próprio. Acontece que ele precisava disso. Controlou seu orgulho, sua vergonha e elevou a voz para todos no ônibus poderem ouví-lo. Pedia por dinheiro pra comprar remédio humildemente. Era perceptível o fato de que ele não era bom naquilo.
Ele não era como um daqueles mendigos que costumamos julgar “nojentos” que exibem suas feridas pro povo dar dinheiro querendo que eles saiam logo dali. Ele não fazia isso. Mas exibia uma receita médica plastificada e uma foto sua com os dois filhos (as pessoas de hoje em dia não acreditariam nele se não fosse por isso). Contou a história de sua vida, dizendo que sofrera um acidente de trabalho que o impedia agora de carregar peso. Falou que era honesto e trabalhador e que mesmo sem poder trabalhar, fazia questão de manter os filhos na escola e dera um jeito da mulher trabalhar para pagar pagar luz, água e aluguel. Ele só queria dinheiro para os remédios. Só.
Eu não tinha um único centavo comigo. Não tinha nada. Nada! Porque se eu tivesse eu realmente teria dado. Mesmo sabendo que não teria dinheiro para dar a ele, eu prestei atenção à sua história e olhei-o nos olhos todo o tempo, enquanto os outros passageiros tentavam ignorá-lo.
Então olhei pra mim mesma. Uma garota de mochila de marca nas costas, um all star limpinho nos pés e toda a pinta de filhinha de papai que apesar de estar ali, tem condições de pegar um táxi ou ser buscada de carro pela mamãe. Tenho certeza de que o homem não acreditou que eu não tinha dinheiro e deve ter me amaldiçoado por dentro. E não o culpo.
Senti a vergonha dominar meu corpo imediatamente. Vergonha de ser de ter dinheiro, vergonha de poder chegar em casa e me dar o luxo de dormir pelo resto da tarde enquanto muitas pessoas tinham a necessidade de estar trabalhando para sub-viver. Vergonha de estar juntando dinheiro para comprar um objeto de R$ 130,00 de que eu não preciso realmente.
Mas então eu entendi que eu não preciso sentir vergonha de mim por querer um pouco de conforto e cultura. Mas ao invés disso eu preciso ter vergonha de fazer parte de um modelo de sociedade em que as pessoas que vivem bem precisam conviver com a culpa disso lhes pesando sobre a cabeça porque existem pessoas que mal sobrevivem.
EA Games demitirá mais de 670 funcionários
Há 8 meses